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Explosão Furta-Cor

O Azul Explosão Furta-Cor do Felipe representa um momento da vida dele, de quando ele começou a deixar de lado o “azul de menino” que era enraizado nele e começou a explorar e viver suas próprias cores.


Felipe olha para o alto e tem uma maquiagem azul que vai da sobrancelha para as temporas. Ele usa roupa iridescente e unhas compridas.

Como foi seu processo de entrar em contato com a sua sexualidade?


Olha, a minha percepção de fato veio mais tarde ali beirando o ensino médio, mas quando eu olho pra mim quando criança, já tava ali desde sempre sabe? Eu tinha crush no Cebolinha hahaha, e eu lembro de experimentar as roupas da minha mãe e de brincar com as maquiagens dela escondido sempre que eu ficava sozinho em casa.


Mas foi no ensino médio que eu comecei a me conectar mais com a minha sexualidade mesmo. Eu mudei de escola da oitava pro primeiro ano e foi primordial pra mim essa mudança, sabe? Porque na escola que eu fiz meu ensino médio eu tive acesso a novas vivências e informações.


Eu sinto que até então eu vivia pra cumprir um script do que eu acreditava que era o esperado. Eu vivia igual as formigas do Vida de Inseto – eles vem, comem e vão embora, eles vem, comem e vão embora. Crescer, estudar, casar com uma mulher, filhos, morte, aplausos!


Uma heterosexualidade compulsória bombardeada diariamente na minha cabeça que não me permitia sair da rota. Nessa época ainda calhou que eu comecei a fazer crisma, que eu não faço IDEIA do porque que fui fazer crisma, mas eu tava seguindo os protocolos do que eu achava que era a vida.


E enquanto eu fazia crisma, ali no primeiro ano da escola, eu nem me permitia gostar de meninos, lembro que meu pecado na época era “não cobiçaras a mulher do próximo” porque eu era apaixonado numa menina da minha sala que tinha namorado. Eu sequer pensava no “não se deitaras com um um homem pipipi popopo.” rs.


Felipe olha diretamente para a tela com uma mão no peito.

Então imagine você, um pouco depois quando eu COMECEI a entrar em contato com a minha sexualidade o tanto que a minha mente repetia pra mim que isso era “pecado”, fez muito bem pra minha cabeça hahaha. Dava ruim, dava bem ruim. O sentimento constante era de que tinha algo errado em mim, mas ao mesmo eu não ficava “procurando uma cura”, porque os pensamentos eram gostosos no fim das contas, rs, mas passavam-se aí alguns segundos e eu me sentia sujo e um lixo.


Passei momentos muitos ruins sozinho na minha cabeça e eu lembro que na época eu entrei em contato com a cultura emo, eu vivi uma relação de conexão e repulsa ao mesmo tempo, porque muita coisa fazia sentido pra mim e exatamente por isso eu negava e falava que não era pra mim. Externamente eu tava feliz, mas internamente eu tava bem triste e em extremo conflito e em julgamento de quem eu era.


Mas enquanto eu me negava, no meio emo eu comecei a ver que era possível meninos gostarem de meninos e meninas gostarem de meninas e ainda que eu tentasse religiosamente - essa palavra faz mto sentido aqui, rs – lutar contra isso, fazia muito sentido pra mim!


Bom, fato foi que na noite que eu dei meu primeiro beijo, ali pelos meus 17 anos, em uma menina, minutos depois eu beijei um menino também, hehehe. Nessa festa tinham várias amigas da minha sala da escola e foi ali no ensino médio a primeira vez que eu fui acolhido de fato. Que tava tudo bem estar afim de um menino e viver um romance emo fulminante que durou apenas 3 dias sem ninguém nunca ter nem se beijado hahahaha.


E quando eu vi que a minha sexualidade não era estranha, mas que ela inclusive era abraçada, eu comecei a viver ótimas memórias.


Felipe está de olhos fechados com a mão apoiada na testa. Ele tem strass que brilham.

Você já teve sua cor interna apagada ou anulada? Você pode falar um pouco disso?


Agora que eu to fazendo terapia, vira e mexe eu desenterro alguma coisa nova, mas quando eu era criança eu sempre me sentia um pouco desconexo da minha família. Por exemplo, eu sentia que todo mundo era louco por futebol, menos eu, nunca achei graça naquele treco que fazia todo mundo ficar extremamente agressivo, xingando e zombando uns dos outros. E como eu não conseguia gostar daquilo, eu me sentia “um pouco errado”.


Lembro sempre de me perguntarem “você é cruzeiro ou galo?” numa energia de “escolha um lado e venha pro combate”, e na época eu gostava mais da cor azul do que a cor preta. Um menino que gosta de azul? Chocante né? Ahahah (Flowers for spring? Groundbreaking). E foi isso com um sorriso amarelo entrei do lado Cruzeiro da família sem entrar de fato. Eu queria pertencer e essa foi a forma que consegui na época.


Tenho alguns momentos que me marcaram mais, claro, mas eu lembro de que era recorrente na minha infância o sentimento de que eu tinha que mudar pra me enquadrar em alguma coisa, gesticular menos, que minha voz era muito fina, que eu deveria brincar ou me comportar assim ou assado.


Tem sempre aquela histórica clássica de que eu queria brincar com bonecas, mas tinha que ser escondido, mas eu lembro desse boneco que eu ganhei – porque boneca não podia – que hoje em dia é meu boneco favorito da vida! Imagine você, é um corpo de homem sarado porém a cabeça dele é um cabeça de dinossauro meio azul, verde-água e a roupa dele é um body rosa, com uma cueca preta e calças vermelhas. Ele tem duas ombreiras furta-cor e uma bota de cano médio preta hahaha. Eu chamava ele de “Lindinha” e ele dava "grand jetés” em cima dos campos de batalha curando as pessoas ahahaha. Mas boneca não podia, rs.


Mas eu lembro que eu costumava sentar de pernas cruzadas. Um dia uma tia minha virou pra mim e disse que homem tinha que sentar era de perna aberta que era pro saco respirar, gesticulando bastante. Era como se a todo instante tentassem introjetar uma masculinidade em mim e um pouco conseguiram, porque me libertar e me soltar disso pra inclusive me permitir voltar a sentar de perna cruzada - que eu acho muito mais confortável - foi bastante difícil.


Felipe olha diretamente para a tela com uma mão próxima do rosto.

Como é viver com sua Explosão Furta-Cor atualmente?


Olha hoje em dia é muito mais fácil, eu sou casado com o meu marido há 6 anos e a gente tá junto a 13! Isso não quer dizer que eu não viva com medo de sair na rua, tem coisas simples, tipo dar as mãos na rua que eu não consigo fazer direito, principalmente nesses últimos tempos. Fora da minha casa eu fico constantemente em estado de alerta e tensão, mas por sorte eu tenho uma rede de apoio linda, inclusive cheia de amigas do meu ensino médio, e poder ser acolhido faz tudo ficar um pouco mais leve e eu sou muito grato por isso.





Felipe está rindo olhando para o lado.

Por fim, qual o seu desejo pra um mundo mais colorido?


Eu quero um mundo onde todo mundo possa se expressar e ser quem realmente é, sabe? Poder se explorar sem medo e sem culpa, que a gente possa viver sem medo de manifestar a nossa cor interior.



O explosão furta-cor é um azul bem brilhante, meio ácido, perto do verde.

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